17 de julho de 2013

CRÔNICA PARA A MINHA AVÓ



             -  por Tais Luso de Carvalho

Com frequência sinto perfumes que lembram minha infância. Essas lembranças me transportam para uma deliciosa viagem ao um tempo que não volta.
Minha avó adorava o perfume das violetas. E volta e meia eu sinto esse cheirinho gostoso, mas sem nenhuma violeta por perto. Tenho saudades do seu meigo olhar, e que aos 89 anos ainda sentia prazer em brincar.

Chamava-se Estrela: vó Estrela! Até esqueci que seu nome era meio esquisito. Acostumei. Seus pais eram portugueses. Minha última lembrança são de seus cabelos branquinhos como flocos de algodão e que brilhavam como raios de luar. Não sei a magia das avós, mas sempre são queridas. Deve ser porque não querem ser mais mães, não querem educar e nem repreender; querem apenas ser amiga dos netos. Abagunçar, serem queridas e esperadas.

Não esqueço de minha avó: era carinhosa e sempre com um sorriso maroto como se tivesse compartilhando travessuras. As avós podem se dar a esse luxo. Dizem que elas deseducam os netos; tudo bobagem! Elas nos abraçam de amor. Um amor que hoje, já adulta, sinto saudades. Muitas vezes precisamos desse aconchego sem fronteiras e sem limites.

Lembro, quando eu ficava doente, de cama, pedia à minha mãe para avisar a minha avó. Claro que isso gerava ciúmes por parte de minha mãe. Mas eu queria a minha avó para brincar. Jogávamos cartas; fazia umas jogadas marotas e dava gargalhada... Eu esquecia que estava doente e com febre.

Lembro-me de uma viagem de meus pais para o Rio de Janeiro: minha vó foi de mala e cuia para nossa casa, cuidar de mim e de meu irmão, por uns quinze dias. Que maravilha! Porém, tinha um defeito, vivia dormindo pelos cantos. Numa destas 'dormidas', meu irmão e eu pegamos as tripas de uma galinha que a empregava comprou no açougue e enrolamos no pescoço de nossa avó. Ficou um lindo colar. Mas aquilo quase a matou de susto, ficamos arrependidos, afinal não é moleza acordar com um colar de tripas no pescoço. Foi a primeira vez que levamos uma carraspana.

Porém, no dia seguinte ao chegar da escola, meu grande urso preto estava todo vestido com minhas roupas, sentado em minha cama! E ela sorrindo, como se quisesse se desculpar pelo desentendimento do dia anterior. E assim fazia todos os dias vestindo aquele enorme urso, o Jeremias, com minhas roupas e louca pra brincar, talvez voltar à sua infância. Bons tempos.

Beijos, minha Estrelinha, quem sabe um dia a gente se encontra num lugar bem mais bonito, onde você deve estar brilhando. Então poderemos brincar sem medo e sem contar mais o tempo; pedirei ajuda aos anjos para que me guiem por essa imensidão, e perguntarei, em cada canto, se eles não viram uma 'Estrela' sapeca, com uma cabecinha branca e brilhando como raios de luar.

Saudades, vó. 
Taís.


29 comentários:

  1. Limerique

    Era uma vez uma estrela avó
    Que em pingo d'água soía dar nó
    Era tipo vovózinha
    Amiga da netinha
    Que jamais deixava se sentir só.

    ResponderExcluir
  2. Que lindo, Taís. Uma das mais belas crônicas que já li por aqui. Um pouco da saudade e das boas lembranças sempre resultam em bons trabalhos.
    Achei interessante quando ressaltou sobre a condição de avós das avós. Querem ser amigas, sem broncas. Querem mimar, querem dar ainda mais carinho. Tive várias lembranças de minha avó de Minas. Hoje ela já não anda direito e não tem mais aquela lucidez... Mas antigamente já passei momentos muito bons ao lado dela. Me sentia protegido, mimado e extremamente querido. Passava semanas em sua casa durante as férias. Minha vez de protegê-la e mimá-la chegou.
    Não sei exatamente como é essa saudade, mas só de pensar, eu consigo imaginar um pouco.

    Gostei muito de conhecer a vó Estrela. Ótima crônica, Taís.
    Beijo

    ResponderExcluir
  3. Olá Taís,
    também sinto saudade de minha avó Albertina...
    Hoje já avô de oito netos de quatro filhas diferentes, eu procuro ser carinhoso, não preciso educar...
    É, a história se repete. A sua avó deve ser uma estrela da constelação das boas avós!
    Um abraço, Loyde manda um beijo

    ResponderExcluir
  4. OI Taís,
    Adoro recordar. As minhas avós, tinham personalidades bem diferentes, uma da outra, mas é estranho que quando me recordo de avó, não consigo separá-las, parecem tão iguais...A intensidade do amor é igual. E a leveza que a gente sente no relacionamento com nossas avós, nos dá esta coragem, para nos tornarmos amigas e até confidentes, coisa que muitas vezes não temos em relação aos nossos próprios pais, e isto torna esta união de netos e avós mais perfeita e mágica.
    Uma belíssima crônica Taís.
    Achei lindo "Os cabelos branquinhos como flocos de algodão, que brilhavam como raios de luar" e ainda " Perfumados por violetas."Show!!!

    ResponderExcluir
  5. Oi Taís, voltei para agradecer a sua atenção e explicação quanto à publicação do meu pequeno poema.
    Me se sinto muito honrada com seu carinho. Obrigada

    ResponderExcluir
  6. Ah, Tais... dia desses eu me peguei pensando se meus netos terão memórias de quem viveu momentos de puro prazer com a vó... eu sou maluca por eles, e o mais velho adora ouvir histórias, brincar de massinha, jogos... enfim, sou uma avó ativa, participativa, que procura não perder nada desses momentos tão lindos... minha filha, com quem conversei sobre isso, mãe do meu neto do meio, de 6 meses, afirmou que estou construindo com eles uma história com laços muito fortes, e que sabe que vou ser lembrada com extremo carinho, assim como vc mostrou a saudade da tua Estrelinha... que assim seja, pq o amor de vó é de uma imensidão indizível, de uma doçura sem igual, e de uma cumplicidade danada...rsrrsrs

    Beijos, Tais, que lindo sentir nas tuas palavras a confirmação do afeto que só as avós sabem dar!

    ResponderExcluir
  7. Anônimo11:28

    Olá Tais adorei a sua crônicas,me trás lindas recordações sobre minha vó!
    Amei beijinhos.

    ResponderExcluir
  8. Que lindo texto tendo em conta a sua avó. Gostei muito.
    Desejo que esteja bem.
    Bj.
    Irene Alves

    ResponderExcluir
  9. Olá Tais...nunca li uma crônica tão linda...eu também sinto cheiro de minha avó materna.. gostava das duas.. mas era muito ligada a vó Tereza, ela me ensinou a amar o que faço hoje, ela era muito católica e me ensinou a rezar e apreciar os santinhos e imagens que ela tinha no seu altar e que hoje estão comigo desde que ela se foi há dez anos...tenho mais ou menos os mesmos sintomas, ás vezes do nada me pego pensando na minha infância e na casa de minha avó querida onde passei.. talvez.. os melhores momentos de minha vida.. sinto muitas saudades..
    Me desculpe se falei demais.. mas só uma pessoa sensível como voçe pode entender...
    Amei e viajei no tempo com esta crônica!
    Um grande beijo e ótima noite!!!
    Silvana

    ResponderExcluir
  10. Olá Tais!
    Que sorte você teve! Conheceu uma avó! Eu nem avó nem avô, ninguém!
    Também não tenho filhos, então sei das coisas pelo que oiço amigas contarem ,pelo que eu própria observo e vou tirando as minhas conclusões. Penso que a maioria das avós serão do tipo da vó Estrela! Que bom é recordar essa infância feliz, cheia de mimos e perfumes.
    Um abraço amigo.
    M. Emilia

    ResponderExcluir
  11. Olá Tais! Lamentavelmente eu não tive o prazer de conhecer meus avós, nem maternos e nem paternos. Quem sabe, a felicidade de ser neto não seria a mesma ou maior, da que hoje sinto de ser avô? Bela crônica amiga! Parabéns por teres sido neta.

    Abraços e muita paz pra ti e para o Pedro.

    Furtado.

    ResponderExcluir
  12. Que privilégio ter uma avó Estrela! E que adorável Estrela, pela sua descrição ela deve estar ensinando suas travessuras - jogos e brincadeiras - para toda constelação...
    Agora, sobre o texto em si, preciso dizer que amei cada linha, cada parágrafo, e que me emocionei profundamente. E, como cada um de seus leitores, me identifiquei com vários momentos da crônica. Também associo a infância a cheiros, e de modo idêntico posso senti-los vividamente! E também lembro de uma situação na qual a vó Maria ficou conosco - meu irmão mais novo e eu - enquanto meus pais viajavam. Ocorre que brigamos e Marlon começou a dar voltas atrás de mim pela casa, com um salto de minha mãe para me jogar na cabeça, e eu aos berros gritando socorro. Se a vó veio me salvar? Que nada, ela ria achando graça, pensando que estávamos apenas brincando rsrsrs. Até hoje me lembro, éramos bem pequenos, e a vó sem qualquer maldade. Parece que todas são assim, feitas de açúcar, só querem brincar!
    Agora a confissão: você me arrancou lágrimas de saudade, sua malvada!
    Crônica LINDA, PERFEITA!

    Beijos

    ResponderExcluir

  13. Quanta ternura nesta crônica, Tais! Encantadora. Uma homenagem digna a uma avó carinhosa, amada e 'sapeca'.
    Creio que quando você sente este perfume de violetas é a presença espiritual de sua avó, acarinhando você.
    Não tenho lembranças boas da minha avó paterna e, da materna, quase nenhuma lembrança, já que ela faleceu muito nova, em torno dos quarenta e poucos anos e morava em outro estado. Mas sei o que representa a figura de uma avó, pois vi minha mãe acompanhando seus netos e bisnetos com um carinho ímpar, do tipo que nós, os filhos, nunca recebemos. Ela sempre foi muito brava e exigente conosco, mas derretia-se e se derrete ainda pelos netos e bisnetos. Eles, por sua vez, são loucos por ela.
    O amor de uma avó é descompromissado, o que o torna prazeroso e fascinante para os netos.
    Que o brilho e a luz da sua "Estrelinha' esteja sempre a iluminar os seus caminhos.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  14. Doçura... É o que sua lembrança mostra, Taís. Vó deseduca filho nada, estou com você! Fez lembrar a minha, carinhosa que só ela! Eu fui o primeiro neto da filha caçula. Já imaginou o 'paparico'?
    Meu abraço.
    Jorge

    ResponderExcluir
  15. Linda e emocionante e, por certo, tua estrelinha te piscou mais forte la do alto!

    Bjs praianos,chica

    ResponderExcluir
  16. Sua cronica fez-me lembrar de minhas avos. A avo pelo lado materno eu mal conheci pois quando ela morreu eu ainda era muito pequeno,m as a vo pelo lado paterno convivieu comigo por muito s anos e eu me lembro que quando eu ia na casa dela , não importa o dia, ela sempre fazia aquele prto que era meu preferido. Lembro dela, na altura de seu metro e sessenta, sempre em atividade. Tinha um amor pelos netos que só uma avó pode ter.Saudades...

    ResponderExcluir
  17. Oi Tais,

    Que linda homenagem à sua avó. Eu também tive avós muito presentes e que marcaram muito a minha vida. Hoje espero a minha hora de vó chegar.
    O interessante é que elas nos trazem uma nostalgia não é? Entendo quando voce diz no texto, um cheiro, uma lembrança. É uma nostalgia, mais uma nostalgia que tranquiliza, que nos deixa em paz. Uma coisa mágica mesmo.
    Lindo texto!

    Deixo o meu abraço pelo dia do amigo
    Com carinho

    Leila

    ResponderExcluir
  18. Saudade dupla,bateu em mim, das minha duas avozinhas: Rosa e Carolina.
    Sua crônica é enternecedora, Taís, fez vir à tona momentos inesquecíveis.
    Um beijo!

    ResponderExcluir
  19. Uma crônica tão cheia de sensibilidade, Taís! Minha avó materna morreu jovem e não tive oportunidade de manter essa convivência. E minha avó paterna não era muito ligada aos netos filhos de filhos, só os filhos das filhas (rss). Mas vejo minha mãe com netos e bisnetos, mostrando esse imenso carinho que você descreveu. Estrelas em vida. Bjs.

    ResponderExcluir
  20. Oi Tais!

    Desculpe-me a demora pra retornar ao teu cantinho. Já estava com saudades e confesso que fiquei com o coração apertadinho de saudades quando estava lendo teu texto.

    Tenho minha vó como uma joia rara. Aquelas que guardamos com todo carinho. Enquanto lia lembrava de minhas travessuras com ela...

    Que tempo bom!!!


    Um beijo pra ti!

    ResponderExcluir
  21. Acredito que ser avó, é poder respirar livremente, e sem maiores preocupações, poder amar na íntegra, não que mãe não o façam,mas,ás vezes o excesso de preocupação acaba estragando um pouco dessa nostalgia,desse encanto que só as avós têm...
    Acredito ser a mais linda crônica que já li até hoje, sempre você dá umas pinceladas poéticas,mas hoje você se superou...
    Emocionada!
    Beijos!

    ResponderExcluir
  22. Olá passando aqui para te presentear com uma tag, dê uma passada lá no meu blog e siga as informações.Parabéns pelo blog.

    http://donskedar.blogspot.com.br/2013/07/ola-gente-ganhei-o-d.html

    ResponderExcluir
  23. Eu trago na lembrança muitos aromas e cores da minha infância e de minha avó...Biscoito de polvilho, cheiro de melão, cor de abacate...Uma delícia!

    Bjusssssssssss

    ResponderExcluir
  24. Oi, Taís, quanto tempo, né?

    Estou me organizando, interna e externamente. Chego lá.
    Essa sua postagem fez-me lembrar uma que fiz sobre o cheiro das avós. A minha tinha cheiro de macela (ou marcela), uma erva usada no enchimento de travesseiros. Delícia! E fazia umas bonequinhas de retalhos, meu Deus, incríveis! Boas lembranças, muito boas mesmo!
    Obrigada por permitir-me, mais uma vez, lembrar-me de minha doce avó lendo esse seu post lindíssimo, recheado de afeto e bonitas lembranças!
    Bjssssssssssssssssss, quérida!

    ResponderExcluir
  25. a crônica, com tanta e própria informalidade, atingiu o objetivo, nos proporcionando compartilhar o teu deleite para com esta singular vovó; e, em contrapartida, relembrarmos as nossas próprias vivências; convivi com duas avós e com uma bisavó

    cativante, terna e bem escrita

    abraço,

    J.

    ResponderExcluir
  26. Ola Tais, voce toca um tema comovedor, amiga. Avos, que maravilha da vida! decir avo es decir mae, amiga generosa, compassiva... tantas coisas... e decir uma grande casa cheia de memorias, e tejer uma rede onde viven milhares de sonhos, que cobriram a nossa inocencia e imaginacao!
    Eu me lembro tambem de aquella cozinha perfumada e uma sala com aroma de rosas e lavanda... uy muito tocantes lembrancas! Muitas memorias cheias de amor e um poquitin me pone triste..!
    Lindo tema tocaste hoje :) Um beijinho e um abraco grande.

    ResponderExcluir
  27. Olá Tais, fiquei emocionada com sua crônica!
    Despertou minhas saudades da vó Maria, eu menina, lá na fazenda dormindo num colchão de palha juntinho dela aconchegada com todo carinho e amor !!
    Lindas lembranças, bela crônica!
    Beijos, Vilma

    ResponderExcluir
  28. Olá Tais, voltei para ler a sua crônica para a sua avó, me senti perto da minha querida avozinha.As avós são anjinhos que nos amam sem condições.Li e reli tentando encaixar a minha avó, Ana em seu texto, e deu certo. Obrigada! Grande beijo!

    ResponderExcluir
  29. Oi Taís.
    Que belo teu espaço, que belas as tuas palavras. Felicidade me encontra assim que encontro cantinhos como o teu, regados ao amor simples transmitido pelas palavras, sem muitas delongas e com muito conteúdo. Quero acompanhá-la sempre a partir de agora.
    Grande abraço e boa semana!

    ResponderExcluir


Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís