13 de maio de 2015

POR FAVOR, ME ESCUTE!

Paul Gauguin / 1891 Museu d'Orsay



        - Tais Luso de Carvalho


Passei a tarde com uma amiga que estava com o espírito  em frangalhos por ter perdido o irmão, e tragicamente. Estava fazendo força para não ser engolida por uma depressão. Fiquei preocupada e disse a ela que voltaríamos a conversar, mas que ela precisava sair, e que não trancasse suas dores, pois é saudável quando dividimos as alegrias, e muito mais: aliviar nossas tristezas com uma amiga (o).

- Mas Tais, as pessoas não querem saber de ouvir, elas querem é falar de suas coisas!

Ela tinha razão: muito difícil alguém parar para ouvir o que precisamos falar. Não estão nem aí pra escutar. Aliás, só escutam o que querem; o que possa lhes interessar. É difícil desabafar uma dor. Difícil  aliviar a alma.

Será que hoje só existem amigos pra servir de acompanhantes? Pra pegar um cineminha, jantar! Ir ao teatro? No cinema não se fala; no teatro não se fala; no restaurante estamos de boca cheia...Falar onde?

Será que alguém tem de pedir: 'Hei... pelo amor de Deus, você pode me escutar?   Pode me dar uma forcinha básica?'

Há anos senti desconsideração numa reunião social. Fiquei com a frase no ar, dependurada e com uma cara de cachorrão enquanto a criatura olhava para todos os lados à procura de algo mais interessante. Senti que estava num monólogo. Que situação desagradável. Levantei e saí. Além de ter sentido o desinteresse por parte dela, não teve jeito de dar continuidade ao assunto. Mas passei por tal constrangimento em nome de minha 'sociabilidade', enquanto ela foi antissocial.

Mas descobri que  topar com alguém - de difícil conversa -  o melhor é não se gastar saliva e ficar calada. Melhor o silêncio, já que a conversa não é obrigada a partir de nós. Essa pessoa jamais irá ouvir alguém;  não terá interesse em ouvir nada que fuja de seu mundo. Nasceu sem empatia – aquilo que é fundamental para sermos apreciados: mostrar interesse pelo que o outro sente. 
Ou no mínimo escutar. Ser solidário, ou apenas educado.

E se não for assim é melhor desaparecermos. Não tem o porquê  investir na pessoa errada.






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19 comentários:

  1. Há um provérbio indiano que diz assim:

    Qundo falares cuida para que tuas palavras sejam melhores que o silêncio!

    Estive por aqui!

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  2. Oi Tais,

    E como isso é verdade! Grande percepção a tua, em levantar tão "humano" assunto. Humano, sim! Todos nós, em maior ou menor grau, somos assim: interessados em nós mesmos antes de tudo; e em nós também, em segundo lugar. Dale Carnegie, autor do ótimo e clássico: "Como fazer amigos e influenciar pessoas", ensina: "Quer fazer amigos? Pois esvazie-se e ouça as pessoas, com sincera atenção". Perfeito! O homem ensinou isso em 1930, mas ninguém aprendeu, até hoje... E Jesus, então, que também ensinou isso há 2000: "olhe para o próximo ' ame-o' como se fosse para vc mesmo"...

    É Tais, somos nós que não queremos mesmo aprender. O Humano é um cabeça dura, um egocêntrico!

    Bjão
    Cesar

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  3. Oi Taízinha! Preste atenção em mim, pois vou falarrrrr!!!Rsrsrs...
    Infelizmente vivemos esse momento onde as pessoas estão voltadas para dentro, num puro egoísmo. Estão surdas, mas não mudas... falam o tempo inteiro, mas se vc notar direitinho, não estão falando com vc, mas com elas mesmas...isso é muito triste!
    É como se vc não existisse, te usam de bucha de canhão.
    Seu texto é uma verdade clara, e sem rodeios. Concordo em tudo, principalmente quando você diz que com o tempo vem a mudança, e o entendimento...percebemos que não adianta bater na mesma porta, pois essa permanecerá fechada, pois cada um tem seu tempo, e como diz o ditado: "Palavras são de prata, mas o silêncio é de ouro".
    Bjos carinhosos.
    Walzinha.

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  4. Olá Tais.
    Eu sei ouvir. Para mim falar é mais fácil no papel. Quando quizerem desabafar, contem comigo.
    Beijos
    Victor Gil

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  5. Olá Taís,
    Eu estou sempre pronta a escutar os amigos. Sempre fui um ombro a escorar os chorosos. Sempre tive uma vocação muito grande para felicidade, um sorriso que se desmancha em gargalhada com facilidade e uma tendencia a alegrar os que me cercam. Porém tive meu tempo de dor, onde contei apenas comigo, me fiz forte, sem ter com quem falar, ou falar com quem não me entenderia, passei a escrever, foi aí que passei também a me apaixonar por mim, Sou doidinha por essa mulher( que sou eu), Narciso que se cuide! Aprendi que ninguém te faz feliz, a felicidade tem de brotar de você.Sou uma ótima ouvinte, sou um viagra nas palavras que levantam. Só preciso ser mais modesta, mas aí... não seria eu.
    Beijos
    Dalinha

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  6. Tais

    Se fosses professora de curso regular então terias dado um tiro na cabeça. Ninguém está a fim de ouvir absolutamente nada. Se conseguires 5 minutos de atenção podes considerar-te felizarda. E não há fórmula, não me venham os teóricos de plantão querer dar lição pedagógica, é tudo balela.
    E por que? O que ocorre com a civilização? Francamente tocas-te num ponto importantissimo que merece ser aprofundado, é muito mais sério do que imaginamos.
    Um abraço
    Obs: não ouvi a musica que a Wall se referiu, por que? Onde está?
    Não me deixe perguntando sozinho....rs

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  7. Gostei imenso de ler este poste. Quanta verdade aqui contida. Quanta insensibilidade grassa por esse mundo fora, quanta falta de solidariedade para com aqueles que precisam um pouco de nós. Quanta intolerância e falta de empatia...

    Aqui, como aí. É igual em todo lado. Cada um quer é seguir com a sua vidinha indiferente a tudo o que o rodeia que o possa perturbar, incomodar, exigir algo, nem que seja apenas, às vezes, um sorriso.

    Como sempre na mouche.
    Um beijo.

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  8. Minha amiga,
    Sei por experiência própria o quanto é difícil encontrar alguém que nos escute. Foi isso que me ensinou a aprender a escutar. As pessoas que precisam de ser escutadas bebem muito melhor o nosso silêncio do que os conselhos que lhes possamos dar.
    Um beijinho,
    Maria Emília

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  9. Olá querida Taís, o que diz é a mais pura verdade. Muitas pessoas não sabem ouvir, são do tipo que não enxergam um palmo a frente do nariz ou só olham para o próprio umbigo é triste mais é a verdade.
    E por muitas vezes justo no momento que precisamos desabafar é que descobrimos quem são realmente nossos amigos, pois nem só de saidinhas e cervejinhas vive o homem, não é?
    Bjsss grandes querida!!!

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  10. Mas veja só, conseguiu descrever de uma alavancada só uma típica situação do cotidiano, pessoas e pessoas que não param de falar, mas parecendo agir assim pelo puro cumprimento do papel rídiculo que o social colocou.
    Já enfrentei situações parecidas, e posso te dizer nos dedos, aqueles próximos de mim que por hora têm paciência de realmente me ouvir e sofrer comigo, num processo raro hoje, que poderíamos chamar divinamente de empatia.

    bjs!

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  11. Tens razão Tais, ninguém pára para ouvir ninguém.
    Um ombro hoje, vale ouro!
    Abs

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  12. Grande verdade essa.Em geral as pessoas não sabem mais ouvir. Se jovens estão a teclar...Se mais velhos, estão no SEU mundo... Se na idade mediana, querem falar dos seus problemas e dane-se o resto! bjs, tudo de bom e não podemos mesmo investir em múmias, ou em quem não quer ouvir , ou ainda em quem nem tem capacidade de nos encaminhar de tão tacanha,rs! bjs, chica

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  13. Tais, nem sempre sabemos o que dizer, mas oferecer os ouvidos, com atenção, faz um enorme bem a quem precisa falar de suas dores. Parece-me que, atualmente, muitos se sentem o centro do universo, o que lhes prejudica a capacidade de mostrar sensibilidade. Para futilidades, há sempre quem se disponha a conversar, mas esse diálogo não tem qualquer valor. Muitas vezes, quem sofre engole sua dor, o que é tão prejudicial, por não encontrar alguém que se disponha, pelo menos, a ouvir em silêncio. Bjs.

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  14. Muito boa tarde querida Tais.. primeiramente acho que algo esta com problema.. pois não recebi a atualização da postagem.. fui atrás para entrar na tua página e ainda estava a anterior que postou.. mas tudo bem.. acho que é coisa aqui do blog mesmo né.. as vezes dá uma loucura.. o ponto colocado é muito visto nos dias de hj..
    geralmente somos sacos de pancada.. saimos com um fardo muito grande quando nos abrimos a somente ouvir.. e por um lado para a pessoa que fala ela se sente tão sozinha e esquecida que merece um tempo nosso.. até gosto de dar atenção.. ouvir e tentar de uma forma suave passar algo ou dar alguma dica.. mas nada de intervir na vida da pessoa..
    sobre o assunto da perda do irmão.. é bem complicado lidar com estas questoes.. estou lendo um livro chamado voltando ao lar..
    na qual uma certa pessoa tem contato com os anjos e passa por tais casas.. e nelas vemos os contratos que fizemos.. a familia que nascemos e por ai vai.. mãe nesta vida na outra pode ter sido irmã nossa e assim por diante.. a coisa é muito ampla..
    mas tb temos de cuidar de nós.. as vezes o melhor é sim ficarmos em silencio... com nós mesmos.. e isso muita gente deixa de fazer a a sua vida vira uma bagunça.. beijos e feliz sempre

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  15. Olá, Tais.
    Posso estar completamente errada, mas parece-me que essa situação se prende com o facto de as pessoas não quererem perder tempo com conversas mais profundas e que impliquem tristezas - fala-se de moda, de futebol, de política (que se resume a criticar sem nada que implique intervenção por mais indireta que seja), da estupidez que se assiste na TV, da vida da colega ou da vizinha e só.
    Ninguém quer saber de tristezas nem de problemas: os seus já chegam.
    Amizade verdadeira, um ombro amigo à disposição nas horas difíceis - são luxos na sociedade de consumos, aparências e futilidades em que nos encontramos.

    Tenha um bom fim de semana
    bj amg

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  16. Minha querida amiga Tais, tenho este problema há muito tempo, sou um bom ouvinte, embora goste de falar, mas sempre escuto o que o outro quer dizer, desabafar, enfim, mas já me peguei falando com as paredes, pois quando se escuta é que deve estar havendo um diálogo, mas quando chegou minha vez de falar, já que a criatura desabafou o mundo nos meus ouvidos, fui falar um pouquinho do que estava sentindo, meio deprê...acredita que era como se eu não estivesse ali, já tinha sido usado, agora não precisava mais, fiquei com aquela cara que tu ficaste na festa rs, tentando ser sociável....sem falar naquele que aparecem de repente e te jogam uma bomba, sem chance de se esquivar, e com a maior naturalidade do mundo saem, nos deixando (eu, no caso) arrasado, e a pessoa sai feliz da vida como se não tivesse dito nada, ou nem se tocou do que disse. Uma amiga diria ruídos de comunicação, gosto do termo, mas acho uma falta de educação, num diálogo, tu ouvires e depois não ter a chance nem de dizer: ai.
    Minha querida Tais, fiquei sem reação ao ler o post anterior, como assim, a senhora é uma bagunceira ? Adorei o post, engraçado, mas foi um pouco surpreendente saber que minha cronista favorita, com uma família linda, seja um tanto bagunceira, ou esquecida (adorei o celular na geladeira).
    Mas o fato é que ninguém, mais quer ouvir ninguém, somos modernos afinal, temos estas geringonças eletrônicas pra quê ? Acho que é para não falarmos mais, só teclar. Sempre muito bom te ler, sempre, mesmo quando não comento.
    ps. Carinho respeito e abraço.

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  17. Ótimo, Tais! Só vou dizer isso, comovido. Foi uma das melhores coisas que eu já aqui. Obrigado. Beijos!

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  18. Olá Tais,

    Hoje em dia a solidariedade anda escassa entre os seres humanos. Emprestar o ouvido para quem necessita falar é uma questão de caridade e consideração ao próximo, ainda que a pessoa necessitada nem seja do nosso círculo de relações. Uma pessoa atenta e generosa percebe quando alguém não está bem e precisa falar. A questão é que muitos agem com egoísmo, olhando somente para o próprio umbigo. Por outro lado, dar atenção a quem fala é questão de educação e delicadeza. Prefiro também o silêncio a tentar manter diálogo com quem não está prestando atenção em minhas palavras ou conversa. Ainda bem que sua amiga mereceu a sua atenção num momento tão difícil.

    Uma crônica que oferece uma necessária reflexão.

    Ótima noite e feliz semana.

    Beijo.

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  19. Ai eu me lembro do: humano demasiadamente humano, no coração tem moradia certa.
    O egoismo acelerou na vida moderna e todos estão surdos e cegos ou com o olhar voltado para o umbigo. A dor do outro é um problema que cabe a ele gerenciar. Demasiado humano este alheamento. Como diria Drummond que na vida é pura porosidade.
    Belas cronicas com seu olhar atento no cotidiano, o que lhe faz expert em cronicas.
    Um carinhoso abraço amiga.
    Saudade deste cantinho cultural.
    Beijo

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís