13 de julho de 2012

PROCURA-SE UM 'MÉDICO DE FAMÍLIA'




          - Tais Luso de Carvalho

Estava pensando numa palavra que fosse bonita e que me trouxesse algum significado. E lembrei logo: saudade! Fiquei pensando numa de minhas saudades e lembrei dos médicos de família. Sem muito querer, tracei um parâmetro entre os médicos mais antigos e os médicos de hoje.

Há alguns anos existiam  os médicos de família: lembro que os pacientes tinham nome, família, eram tratados e examinados com diferença. Hoje somos números; somos fichas ou carteiras plastificadas. Mas dependendo do plano de saúde, ainda agradecemos pelo tratamento um pouquinho diferenciado. Muitas vezes sinto que são tratadas as doenças e esquecidos os doentes, tal a rapidez, tal a objetividade. Talvez entenda o porquê, mas lastimo.

Será que os médicos de hoje não percebem que nós, quando doentes, ficamos frágeis, assustados e carentes de uma palavra amiga? Será difícil para os médicos perceberem que por medo do diagnóstico é que vamos atrás do médico-amigo? E que temos uma parte emocional que facilmente se desestrutura?

São muitos os que divagam atrás de um profissional com estas características; dos médicos que conheciam nosso corpo e nossa alma. Daqueles médicos que sabiam o que estava acontecendo e por quê. Tenho pena de todos e tenho pena de mim.

Minha filha, hoje adulta, encontrou numa confeitaria  o seu médico de infância: chorou de emoção. Achei lindo, um ato de eterna gratidão. E eu, naquele momento, tentei segurar meus abalos. Agora, ela não tem mais por quem chorar. E nem eu. Todos já se acostumaram com a frieza do atendimento médico. E com isso ambas as partes perderam.

Se os médicos de hoje soubessem da importância deles, das marcas que deixam em nossas vidas,  escutariam mais seus pacientes. Não procuramos um feiticeiro milagroso ou uma promessa falsa; procuramos um ser humano que se interesse pela nossa cura, que tire nossas dúvidas e dê uma palavra de conforto.

São nesses momentos de fragilidade é que precisamos, pelo menos, de um olhar mais terno, mais amigo. Não precisamos de abraços afetuosos nos momentos de alegria e de comemorações: precisamos desse afeto quando nossa alma chora de angústia e de medo. Pouco se vê de humanidade e compaixão. Está tudo tão automatizado, tão impessoal!

Digo-lhes doutores, as doenças nos deixam tão humildes e frágeis que  se fosse possível uma pitadinha de compaixão e de calor humano... Aliviariam nossas dores e, talvez, voltaríamos a chorar de emoção e agradecimento. Acredito que jamais serão esquecidos. Não estaria aí o verdadeiro sentido dessa vocação escolhida?

Depois, podem pedir tomografias, ressonâncias, cintilografias... Todos estes avanços tecnológicos que ajudam na precisão do diagnóstico. Mas peço-lhes que não sejam máquinas, doutores, usem um pouco mais o coração.


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26 comentários:

  1. Taís, você diz muito bem. O profissional da área médica, mais precisamente o médico, de fato, se doasse um pouco de atenção aos pacientes, certamente as nossas dores emocionais se tornariam mais brandas.

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  2. Anônimo08:49

    Tais:
    Sou médica de família e me orgulho disso. Trabalho só no Setor Público, Prefeitura e Universidade. A nova filosofia do Setor Público atualmente é de resgate deste profissional, falhas existem, mas o Brasil está na vanguarda da implantação do Programa Saúde da Família na América. No final de abril estarão reunidos em Fortaleza mais de 5000 profissionais discutindo como melhorar a saúde da familia através de práticas multiprofissionais e não somente o médico, isolado.

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  3. Tais, que texto fantástico!
    Pois foi escrito para ir além dos jalecos brancos e dos títulos de Doutor, na tentativa de resgatar a necessária humanização na área da Saúde.
    Sinto-me como você: quero médicos de família para mim, para meus filhos! Aqueles amigos de branco a quem recorrer na hora exata, sabendo que serei orientada com um mínimo de distinção. Será que exagero, quero algo que não condiz com a profissão?!
    Não, não estou exagerando. Médicos não precisam ser frios para serem excelentes naquilo que fazem. Sei disso pois tive a melhor obstetra deste mundo acompanhando minhas gestações. Só eu sei o quanto sou grata por tê-la segurando minha mão quando, apesar de meus esforços e desejo pessoal, foi constatado que eu não poderia ter filhos através de parto normal. Ela esteve perto de mim o tempo todo e me ajudou a tomar as melhores decisões, aquelas que preservariam a mim e ao bebê. Ela é um exemplo para mim de que se pode ser profissional e ser humano ao mesmo tempo. E ela, essa médica que neste momento recebe minha homenagem, me faz acreditar que ainda existem, sim, médicos que tratam os doentes e não a doença, pura e friamente, pois esses raros e preciosos insistem em usar o coração. Para eles, meu aplauso e minha admiração! Que sejam valentes, embora em pequeno número, e não percam nunca aquilo que os distingue e os faz serem saudados com lágrimas em encontros ao acaso numa confeitaria.

    Mais uma vez brilhante, querida Tais!

    Beijos.

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  4. É Tais, o desenvolvimento tecnológico permitiu avanços que dão precisão ao diagnóstico, mas também, em contrapartida, surgiu a pressa, a frieza, a loucura do mundo globalizado em que as pessoas são vistas como números e estatísticas.
    Saudades do que perdemos que é, o ser humano visto como ser humano fazendo parte de uma grande família comunitária.Bela crônica.
    Bom final de semana.Bjs Eloah

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  5. Anônimo16:25

    Espero que a discussão do Programa Saúde da Família não fique só nesse encontro em Fortaleza.. O que realmente o povo precisa é aqui e agora Saúde para todos... Sinceridade, não acredito mais no blá,blá dos encontros nestas lindas praias... O bom mesmo é fazer um encontro onde o povo possa participar e opinar juntamente com os médicos, só assim muitos vão entender as reais necessidades.
    Um beijo Thais.. adoro teu blog.

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  6. Oi Taís!
    Muito bom esse tema que escolheu; médicos!
    Que além de tratar doenças do corpo,
    deveriam se preocupar um pouquinho mais em ser humanos!
    E quanto ao comentário do anônimo ai em cima, achei muito bom, mas acharia melhor ainda, se eles pudessem rever a forma como tratam seus pacientes, principalmente pobres, que necessitam da saúde pública e que pagam seus salários,e na maioria das vezes são tratados com frieza, indiferença e até estupidez que por várias vezes já tive o desprazer de observar.
    É claro que tem excessão da regra;
    pessoas que são médicos por vocação, e que não visa sòmente status e dinheiro, este Deus abençoará muito!
    Um grande abraço Taís! Bom final de semana!
    Mariangela

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  7. Taís,
    Você tem razão, hoje somos números que servem apenas para injetar grana na conta bancária dos médicos. Eles preferem agir sem saber sequer nossos nomes, somos apenas fonte de renda. Lamentável sob todos os aspectos. Meus pais eram muito pobres, mas mesmo assim os médicos vinham a nossa casa e nos atendiam. Tenho certeza que aquela presença reconfortante que olhava em nossos olhos contribuía para a cura. Abraços, JAIR.

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  8. Anônimo21:37

    Tais,
    Realmente na hora da dor, da doença é quando mais sentimos nossa frágil natureza.
    Creio que tantas doenças e dores tem tornado os médicos mais frios e distantes, assim afastam das mazelas e criam uma barreira entre eles e os doentes.
    Que bom seria ter um amigo nessa hora, nos consolaria e a confiança aumentaria.
    Você disse a palavra certa sobre essa ausência de calor humano nos doutores: saudade [dos médicos de família]
    Beijokas doces

    Por favor atualize meu link, é so parar de seguir palavras ao vento e seguir o palavresias.

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  9. Os profissionais em geral estão perdendo o lado humano. Os médicos especificamente andam muito desatentos e cometendo muitos erros. E graves!
    Também sinto saudades de muitas coisas boas que existiam e que hoje são raras de se encontrar. Como por exemplo, levar a sério sua profissão e exercê-la com amor e não só por... dinheiro.
    Parabéns pelo texto.
    Beijooooo!

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  10. Olá!Bom dia!
    Tudo bem?
    ...é nessa hora que os médicos amigos, além da sua qualificação técnica, demonstram suas competências humanas, pelo que nos acrescentam de tranquilidade, pelo que nos apoiam e confortam... são uma espécie de protetores para quem o que conta não é o valor do tratamento, mas o bem estar que nos proporcionam...
    Agradeço pelas palavras à meu respeito na Confraria!Muito obrigado!
    Bom final de semana!
    Beijos com carinho!

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  11. Sou um sortudo...Tenho médico de Família....!! Mas a realidade....o que a Taís descreve...Sabe que a semana passada os médicos fizeram dois dias de greve, porque só lhes pagam a 4 euros a hora, em contratação
    por empresa privada...!!!!Pode!!!
    Para onde vai a saúde neste País..
    Beijo

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  12. Oi Taís,

    voce me fez lembrar a minha infância e adolescência. Lindo texto e muito real!

    Será que a medicina cresceu e se desenvolveu tanto tecnicamente que o lado humano perdeu seu espaço?

    Não seria interessante para os médicos ouvirem a voz de seus clientes de vez em quando?

    Com este acidente que tive com a minha mão, tive que ir a 5 médicos diferentes até que um me ouviu. E só depois disso a minha mão começou a melhorar. essa é a maior prova de que ouvir o paciente e dar-lhe um minuto de atenção pode ajudar inclusive no diagnóstico.

    Um ótimo texto

    Abraços

    Leila

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  13. Que belo texto, cheio de emoção e ternura...

    Bjos

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  14. Taís, eu sinto falta do tempo em que qualquer médico era um Clínico Geral, ele sabia ouvir e fazer diagnóstico de maneira geral. Hoje, com as especialidades, caso falemos de mais de um problema e saiamos um pouco da da área do médico consultado, já era!
    Parabéns pelo excelente texto, você falou da realidade com precisão!

    Beijos

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  15. Bom dia Taís. Se pudesse colocaria esta sua cronica maravilhosa no Mural de assuntos de cada hospital no Brasil,ou usaria para responder as enquetes de qualidade em atendimento, principalmente nos hospitais públicos.Quando adoecemos não descartamos a parte adoecida, do resto do corpo, se assim acontecesse,seria fácil tratá-la,mas não, ela continua integrada e precisamos mais do que nunca nestas horas de abrigo para nossa alma, nosso estado psicológico.Concorda comigo? Isto tudo sem contar o ambiente hospitalar que em alguns hospitais,mais parecem um campo de concentração.Mas para atenuar,acredito que os médicos também sofrem stress por estes problemas sócio-econômicos tão conhecidos aqui no Brasil. Para finalizar: É mais aparente se construir um Estádio do que investir na Saúde,e até mesmo melhorar a aparência física dos hospitais públicos. Até o ambiente ajuda na hora da cura.Adorei, perdoe se me alonguei.Tinha que falar. Adorei. Tenha uma linda semana.

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  16. Lindo! Concordo e assino embaixo! Por anda você amiga! Te encontrei em um blog amigo e vim te visitar.... Como está você? Aparece!..... Que o amor renovador e a Paz de Jesus Cristo habitem nossos corações sempre! Uma abençoada semana, repleta de muita paz e alegria! Grande e carinhoso abraço!
    Elaine Averbuch Neves
    http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com.br/

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  17. Anônimo09:26

    Olá! visitei seu blog e ameei, esta lindoo, já estou seguindo , se puder visitar meu cantinho ficarei feliz http://maquiagensbright.blogspot.com.br/

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  18. Olá,Taís!

    É uma triste realidade.Tive a sorte de contar com um pediatra maravilhoso para o meu filho(o mesmo pediatra que foi médico do meu irmão,hoje com 18 anos),ele era muito mais do que médico,era também psiquiatra!rs Entrava lá muito preocupada e saia tranquila!rs
    E sempre falava com os pacientes pelo nome e peculiaridades de cada um!Sabia quem era gremista ou colorado! Uma pessoa que quero muito bem,e rezo a Deus que o abençoe!
    Faz muita diferença,né?!
    Beijos!!!

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  19. Amiga estou tentando mesmo com meus problemas nas mãos digitar tudo que sinto lendo as postagens dos blogs que considero amigas de verdade.
    Só quando a dor esta forte acabo por deixar uma cola.
    Seus texto não tenho como deixar de comentar.
    Os médicos de familia era muito importante em nossas vidas.
    Hoje somos tratados com indiferença
    e com certa dose de humilhação mesmo com plano de saúde.
    Digo disse pelo meu sofrimento esperando com dor uma cirurgia desde outubro do ano passado.
    Só agora depois de denunciar na ANS o plano que esta sendo resolvido meu caso.
    Tudo que esperei durante esse tempo todo foi resolvido em uma hora após minha denuncia.
    Sinta falta dos seus comentários creio que por levar cola entristece por eu não comentar a postagem feita com esmerado carinho.
    Beijos linda tarde,Evanir.

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  20. Taís, tive um longo relacionamento com um médico. Um profissional daqueles que não mais existem. Costumávamos conversar sobre essa indiferença que tomou conta de todos. Ele afirmava que olhar nos olhos do paciente e ouvi-lo já poderia trazer a cura, muitas vezes proveniente do lado emocional, de carências.
    Outro fator que envolve essa mudança é a falta de preparo, eis que pedidos de exames possibilitam ao profissional encontrar respostas para o que não sabe. Não existe mais o exame por toque. O médico sequer coloca suas mãos no doente que o procura. E quando o olha, de verdade, já está fazendo muito.
    Também a medicina virou comércio.

    Grande beijo!

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  21. Oi Tais, realmente é triste a frieza que está invadindo o "Ser humano"
    realmente o médico parece que vê o seu paciente como robozinho, dói...
    mais em geral o universo está frio
    o calor humano esmaeceu nesta grande evolução e a cada dia a tecnologia mais avançada , e o humano encolhendo em seus dissabores. Dói este cenário contemporâneo ...bjs amiga.
    Que Deus continue te iluminando.

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  22. Olá Taís,
    Ótima sua postagem! Concordo com você em gênero, número e grau. Hoje, dificilmente algum médico que lhe tratou há algum tempo, lembra de você.
    É como você diz, tudo muito automatizado. Somos, para eles, números, estatísticas.
    Felizmente, tenho o meu cirurgião, que também é ginecologista, obstetra e mastologista, que foi quem me tratou quando tive câncer de mama.
    Ele é uma pessoa muito querida. Todos os seus pacientes o adoram. As consultas ocorrem como se estivéssemos conversando com um grande amigo. Opina, aconselha, mesmo não se tratando de sua área de trabalho, ele adora ouvir o que os pacientes sentem, em seu interior e se preocupa com o emocional das pessoas. Este é um dos poucos que conheço que é assim. Até penso que ele ama o que faz, por isso é tão amigo e conselheiro. Cada vez que vou ao seu consultório, saio de lá maravilhada pela sua paciência em ouvir-me e deixar-me relatar meus queixumes e minhas dores. Felizmente e graças a Deus eu tenho um médico assim. Jamais o abandonarei, pois este veste a camiseta da profissão que escolheu e é uma "fera" naquilo que faz.
    Um grande beijo, amiga.
    Maria Paraguassu.

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  23. Que pena não existirem mais o médico da família, também sinto falta disso.
    No tempo de papai e mamãe e nós éramos crianças, tínhamos um médico assim e nos tratava com muito carinho e respeito...não era um e sim dois, lembro bem deles, um era o Dr. Cursino e o outro era o Dr. Cembranelli, pessoas maravilhosas, amigos de verdade.
    Excelente o seu texto, u abraço e bom final de semana.

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  24. Anônimo22:52

    Seja em qual área for, se somos bem tratados saímos com um sorriso no rosto e tudo parece mais amenizado...

    Bom fim de semana

    Leandro Ruiz

    www.plus.google.com/115524738625459865358/about

    www.lleandroaugustto.blogspot.pt

    www.eu-e-o-tempo.blogspot.pt

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  25. Puxa Tais que lindo!
    Talvez falte também um pouco de divulgação sobre a importância desses anjos em nossas vidas, e que a mídia não só os mostrasse quando falharam, mas sim, enfatizassem a beleza dos acertos, digo isso com conhecimento de causa,uma equipe ficou numa cirurgia seis horas em pé,para que eu voltasse a andar sem dor.
    Seis horas é tempo que não acaba mais...
    E que as celebridades e futebóis deixem um pequeno espaço para isso...
    Beijos!

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  26. muitíssimo interessante. Enquanto lia tuas palavras lembrava-me das aulas que tive na faculdade de Pedagogia Hospitalar. É uma área recente para os pedagogos, uma disciplina eletiva, mas que me trouxe ganhos incríveis.

    A professora que ministrou a aula era formanda em Psicologia, uma excelente profissional e nos fez refletir sobre essa frieza que encontramos na medicina. Um dos filmes que fomos recomendados a assistir foi aquele O amor é contagioso, onde um estudante de medicina contraria as regras da universidade e sair distribuindo atenção e carinho para os pacientes...

    Eu falo demais... Vou ficando por aqui. Mas antes, digo parabéns pelo texto e pela temática! Amo este tema mesmo.

    Um abraço!

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís