18 de outubro de 2009

PRECONCEITO

Di Cavalcanti


- Tais Luso de Carvalho


Todos sabemos: preconceito não é nada mais do que uma ideia preconcebida, antecipada; o não gostar sem saber o porquê, estabelecer diferenças entre as pessoas sem razão para tal.

Pois bem, todos fomos, alguma vez, preconceituosos. Uns mais, outros menos. Mas fomos, infelizmente. Isso é próprio do ser humano.

O preconceito racial é bem conhecido e não preciso deter-me muito nele. Sabemos que as manifestações são violentas, principalmente contra os negros - eles têm, sim, suas razões para odiarem o mundo, mas de nada vai adiantar dizer que um erro não justifica o outro. Foram arrancados de sua pátria, escravizados em mundos diferentes e, ainda, torturados num certo Pelourinho, hoje lindo e maravilhoso, todo colorido, lugar ideal pra turista tirar fotografias e rir não sei de quê. O Brasil foi o último país a acabar com a escravidão racial - no papel.

O preconceito está sempre presente e não precisa esforço para encontrá-lo. Ele está nas religiões, nas seitas - cada uma achando que a sua doutrina é a verdadeira, a única. Vamos encontrá-lo no pobre, no trabalhador de baixa instrução, nos homossexuais, nos velhos, deficientes, gordos, feios, baixos, gigantes ou ateus. E, por aí vai; não existe mais gente, existem categorias e grupos prontos para serem discriminados.

Ouvi de um casal de amigos, ambos obesos, que a mulher gorda é mais descriminada do que o homem gordo. Eu não tinha pensado nisso; a discriminação ainda tem subdivisões!

A gordura tem identidade. A gorda jovem é mais discriminada do que uma gorda idosa. A gorda idosa é perdoada porque é idosa; mas a jovem já leva um apelido pra arrasar, pra ficar quieta. Já viram gordas trabalhando? Poucas: gorda tem de ir pra Spa; gorda não sabe fazer nada, gorda ocupa espaço, gorda é lerda... Esse é o pensamento do empregador.

Porém a pior das discriminações é contra os deficientes. Ser deficiente é uma coisa; ser ineficiente é outra. Mas parece que o negócio anda meio misturado...

Quantas vezes chamamos as pessoas pelo defeito exposto e não pelo seu nome? É o vesgo, o narigudo, o orelhudo, o fanhoso, o manco, o albino, o gordo, o magrão, o careca... Já presenciei um homem de 1.95 mt ser chamado de anãozinho... Ainda tem o lado irônico da coisa.

Onde o preconceito mais funciona é quando saímos à procura de trabalho. Quantos não conseguem emprego por sua massa corporal não entrar nos padrões exigidos de boa aparência?
Os velhos acumularam conhecimento durante anos e depois não servem mais, a não ser que sejam liberais. Caso contrário são desprezados e tratados como se fossem bagaços.

Os jovens recém-formados também são discriminados. Nos classificados dos jornais a exigência do empregador é de que esses jovens tenham, no mínimo, 3 anos de experiência comprovada.

Com tudo isso entrego meus pontos: não consigo entender esse raciocínio. De onde esses jovens vão tirar os tais 3 anos de prática? Estágios? Não dão a vazão necessária. Então como farão com aqueles milhões de empregos prometidos se os empregadores querem o prático, jovem e lindo?

Liguei meus neurônios e consegui entender: os milhões de empregos prometidos - que ainda não vieram - são para criaturas jovens, de fé, com experiência, brancas, magras, bonitas, nem altas, nem baixas e com uma saúde de ferro; e se forem homens, com cabelos; porque os carecas também estão no listão!

Enfim, coisas nossas, dos humanos.



18 comentários:

  1. Crônica bem oportuna, Taís. Você enfoca bem a questão. É preciso não pararmos de protestar, de dizer "não" à praga do preconceito, de lutarmos de qualquer maneira por mundança, e mudança radical. Não adianta dizermos que não temos preconceito. Por baixo do pano, subrrepciamente, o bichinho se impõe. É como uma bactéria, um vírus, propagando-se sem que percebamos.

    Um grande abraço e uma ótima semana para você.

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  2. Muito bom Taís, e o comentário do José Carlos está perfeito, resta complementar que o preconceito me parece ser tão antigo quanto a humanidade.

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  3. adorei seu texto..Esse preconceito que todos dizem não ter mas existe muito. o que foge do tipo estipulado pela midia já é tachado, é diferente então não é aceito..quantos machucamos por ignorar os sentimentos dos (diferentes) parabéns. beijo

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  4. Na realidade o preconceito atinge o diferente. No meu tempo de infância quem usava óculos era discriminado porque era diferente, era raro crianças usando óculos, hoje já não mais. Qualquer detalhe que torne a pessoa diferente é motivo para gozação e discriminação:
    uma orelha de abano, um nariz mais avantajado, ou mesmo no modo de agir e de pensar: os estudiosos são discriminados na escola e assim vai. Na realidade o ser humano não aceita conviver com a diferença, todos tem que ser padronizados não só fisicamente, mas socialmente, ideológicamente, na religião e por aí vai. Voc~e consegue imaginar numa reunião de diretoria de uma grande empresa um cara de piercing e tatuado? Não importa se ele é um gênio.

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  5. Tais,

    Este teu espaço de crónicas aumenta de qualidade a cada publicação... Interessantes posts, directas e certeiras reflexões sobre a condição humana. Trágica e triste, com espaço para se sublimar.

    Beijinhos

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  6. obrigada pela visita.. beijão

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  7. Vim retribuir a visita tão amável e gostei do seu cantinho tão especial. Abordou um assunto que faz parte da nossa vida de uma forma que nos leva a refletir aonde também somos preconceituosos. Eu não fiz faculdade e tb não tenho lá muita cultura. Fez-me lembrar dos preconceitos que sofri de algumas clientes de meu ex marido. Ele totalmente intelectual, psicanalista. Algumas delas não se conformavam,me chamavam de " A burrinha".Para elas a única inteligencia que existia era a do intelecto com cultura de nível superior.A inteligencia de por a mão na massa "fazer" e a emocional"sentir" não significava nada. rs...Portanto, o preconceito existe até com quem é 'gente que faz" rs...É "Tem gente que "sabe" e esquece do "sentir". bjs nova amiga. "Senti" que aqui tem espaço pra todo mundo

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  8. Preciso dizer que adorei???
    O preconceito é realmente algo infundado... Aconteceu comigo certa vez... Com o rap
    - Até pouco tempo atrás EU ouvia falar de RAp...Já pensava que era música de maloqueiro, que só tinha palavrões, sem conteúdo etc.
    Esses dias me deram um conselho... "Escuta e vê a letra", eu nem ia olhar... Mas me deu uma certa curiosidade... fiquei de queixo caido, Não é uma música sem conteúdo como todos falam... Elas reivindicam as coisas, mostram a realidade.
    Os preconceitos devem ser vencidos, pois são só esteriótipos.

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  9. Este espaço se supera em qualidade. Parabéns.
    Gostei que tenhas seguido meu blog "Quintana é para Sempre".
    Obrigada.
    Bjs.
    Estela

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  10. Oi querida, que post maravilhoso e em boa hora.
    Hoje eu estava discutindo no trabalho sobre o preconceito contra os deficiêntes.Um cliente estava comentando com o outro que agora uma pessoa que tenha apenas uma perna, não pode se beneficiar do INSS, pois esta pessoa pode exercer várias funções com uma única perna.
    Eu e meu amigo de trabalho ouvimos o tal comentário e começamos um debate.
    Eu concordo que uma pessoa possa fazer inúmeras coisas e exercer várias funções com uma perna só, porém não aqui neste país. Fazer várias coisas sim, pois depende da extensão do problema e da capacidade física e pscológica de cada um. Agora quanto ao trabalho é muito mais difícil. Eu perguntei a ele quantas pessoas com uma perna ou um braço só, ele já viu trabalhando em alguma empresa. Ele disse nenhuma, mas já viu dirigindo e jogando futebol.Bom, pelo menos no Brasil a chance deste canditado a uma vaga de emprego por mais inteligente que seja, são nulas.
    Ele é considerado incapaz, constrangedor e blá, blá, blá...
    A maioria dos ônibus não tem sequer a porta obrigatória para cadeirantes.
    O descaso e o preconceito é muito grande.
    As empresas são obrigadas por lei ter uma cota de suas vagas para deficiêntes, mais e daí? A lei neste país não é cumprida.
    Isto tudo é muito triste e revoltante.
    Adorei tua visita querida e tuas palavras,obrigada pelo carinho.
    Beijos na alma e tenha um lindo e maravilhoso fim de semana...

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  11. Muito bem vista esta sua cronica, Tais, gostei mesmo. E o pior é que mesmo quando toca a nós ou a alguém muito próximo, achamos uma injustiça, mas não apredemos. Numa próxima oportunidade lá vem o preconceito. Tarefa dura esta de acabar com uma ideia pré-concebida que não tem razão nenhuma de existir e causa tanta dor.
    Um grande beijinho,
    Maria Emília

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  12. Infelizmente, só me resta concordar com o texto de hoje...

    Coisas de humanos que na verdade de não passam de crianças grandes a julgar os outros...

    Fique com Deus, menina Tais.
    Um abraço.

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  13. Pensando bem, preconceito poderia ser sinônimo de idiotice, de burrice, não é? Como podemos não gostar de uma coisa que não temos conhecimento???

    O preconceito racial é sinistro mesmo! Contra os negros é ainda maior, mas eles mesmos supervalorizam isso, infelizmente!

    Concordo plenamente com você quanto aos diversos tipos de preconceitos e não adianta nada as leis de proteção ao culto, ao idoso, ao homossexual, ao deficiente, que o preconceito está aflorado em todas essas categorias, está aí, escancarado.

    Quanto aos seus amigos obesos, a sua amiga tem razão. Já fui beeeeeeeem mais gorda do que sou hoje (32 kg a mais) e sei muito bem o que é isso. Gordo e ainda velho é um horror, alvo de preconceitos mesmo!!!

    A gorda é bem menos ágil, experiência própria. kkk

    O deficiente é tido como ineficiente mesmo, você colocou muito bem, o que é uma mentira escandalosa. Há muitos deficientes muito mais eficientes do que os tido como "normais".

    Santo Deus, amiga! Presenciastes alguém chamar um homem de 1,95m de anãozinho? E quem chamou, quanto media???

    Sentimos na pele mesmo o preconceito é quando precisamos bater de porta em porta com o nosso currículo de cinco páginas debaixo do braço. Serve pra quê?

    A tal experiência comprovada é fogo mesmo! Como o sujeito vai adquirir experiência, se não lhe dão uma chance???

    Você, como sempre, Taís, expôs com grande clareza e sabedoria, o perfil do candidato a um dos milhões de empregos prometidos. Ironia???

    É, amiga Taís, quanto mais estudo o ser humano, menos entendo-o!

    Taís, como sempre foi um imenso prazer ler-te! Satisfaz-me!

    Grande abraço,
    Lúcia, tua amiga do Planalto Central.

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  14. falou e disse!!!
    às me parece que a pessoas (e NÃO estou me excluindo) se compensão do preconceito sofrido sendo preconceituoso com os outros. Então a coisa vira circo e é preconceito pra todo lado. Mas como vc mesma já disse, é a nossa natureza. Precisamos domar a fera!

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  15. É mesmo isso, coisa nossa de humanos...

    Tu escreves tão bem!!!

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  16. MOMENTOBRASILCOM.COM23:52

    Tais:PARABENS!pelo blog e trabalho. Abrçs. Roy Lacerda.

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  17. Preconceito é terrivel e costuma ser produto de vaidade, arrogancia, ignorancia e outras "ancias" da humanidade. Tenho lutado ferozmente contra os preconceitos que nos são inflingidos, especialmente o racial. Sendo eu professor de ingles em escolas de idiomas ja convivi com todo tipo de aluno , professores e professoras. Em uma dada escoal onde trabalhei ha varios anos tinhamos uma professora Nigeriana, preta como carvão que é uma caracteristica daquele povo. Quando fomos apresentados eu a abracei e beijei na face como fazia com as outras colegas e ela ficou muito sem jeito. Depois em um bate papo informal, quando perguntei porque ela disse que outros professores mal pegaram na mão dela ao ser apresentados. Eu só disse que diante de Deus somos todos irmãos. Resultado.. ganhei uma amiga eterna.

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    1. Que lindo isso, Sig, na verdade, que importância tem a cor da pele? Qual a vantagem de um branco arrogante, ladrão, safado e estuprador?
      Parabéns, também eu agiria assim.

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís