26 de fevereiro de 2011

OS NOVOS RICOS


- Taís Luso de Carvalho


É muito divertido de se ver as extravagâncias dos novos-ricos. Mas o mais curioso é que alguns emergentes nos dão a impressão de que tudo o que ostentam vem de berço, como se eles fizessem parte de uma dinastia, dando a impressão de que tudo é muito natural. Sendo assim, a coisa fica bastante animada. E essa migração, de uma classe social para outra, chama muita atenção.

Os cachorros dos novos-ricos frequentam manicura, pedicura, tosa e modelista. As fêmeas andam de fitinhas e gargantilhas de strass. E se forem pequeninos andam no colo, aquele lance de nenê da mamãe.

A casa do novo-rico tem de ser top: recebe a visita de um decorador - já conhecido no mundo das celebridades - para decorar a nova morada com muito luxo. E começa por cavar uma piscina, o que é fundamental. 

As empregadas domésticas entram na goma: uniformizadas dos pés à cabeça, passam a falar baixinho e adquirem um comportamento misterioso, principalmente ao telefone: falar com a patroa torna-se algo mais difícil do que falar com o Ministro das Comunicações. Mas faz parte, a madame é muito ocupada.

Bom gosto não se compra com dinheiro, e por isso é que se vê tanta extravagância. Os velhos amigos voam! Os novos-ricos têm interesses diferentes: um deles é explodir como mais uma socialite nos céus desta pátria amada / idolatrada / salve, salve...

Para os homens valem outras coisas, mas não menos engraçadas: o carro top, com duzentas luzinhas no painel  que lembra a cabine de um Boeing  supersônico.Isso  deixa os novos emergentes alucinados. Após o carango, entra na lista  o laptop mais avançado do mercado; O celular mais afinado, caneta de ouro, relógio Rolex, Patek Phillipe... E bebida! E na bebida, a maior exigência fica por conta do vinho. E o bom emergente faz questão de anunciar o preço de seu vinho... Aliás, fazem questão de gritar o valor de tudo. É um problema de status, prestígio.

O emergente metido a enólogo tem um envolvimento com o vinho como se fosse a sua eleita, e fica aloprado ao entrar numa adega. Para alguns deslumbrados, o vinho tem de ser degustado e seus mistérios desvendados! Olhem que coisa romântica. O ritual do vinho só perde para o chá dos japoneses - com cinco horas de preparo. Beber com um emergente nunca será um prazer, será um estresse.

Mas, continuando com as originalidades dos emergentes, a temperatura do vinho tem de ser exata: o excesso de temperatura poderá deixar o vinho agressivo, pouco agradável, como o inverso fará com que o vinho adormeça, neutralizando o aroma e sabor. (Nossa Senhora!...)

É da maior importância que o vinho seja da melhor safra, da melhor uva, e da melhor vinícola - procurada alucinadamente no rótulo da garrafa. Faz parte da sua cultura geral.

Mas tem mais: o melhor cálice é o de cristal sem emenda,  liso e com silhueta de tulipa, para poder girar o vinho, pois é assim que solta os seus delicados  aromas. E assim ser cheirado inúmeras vezes. Estão entendendo o espírito da coisa?

Então sigo...

A idade do vinho é importantíssima: sendo vermelho rubi, é um vinho jovem; vermelho acastanhado, vinho mais envelhecido. Então você decide se quer um 'véio'  ou um novinho, frutado ou com gosto de madeira.

Você tem de amar o vinho! Ser-lhe fiel! Beber pensando nele: sentir se é encorpado ou leve; se generoso, aveludado, rascante... Mas se for um vinho filante (doente), o cara surta! O estudo técnico de um vinho é como um Processo de Software; é muito importante, você precisa entender isso.

O vinho sempre será algo de extrema importância nos bate-papos, e você aprenderá  sobre as uvas sauvignon, merlot, pinot noir, pinotage, chardonnay, gewürztraminer... E não somente isso, falar na rolha, no sabor, no perfume, na uva, na cor, na acidez, na idade e de onde veio a bebida é coisa para muitas horas. Porém, não repare se o emergente ficar de olho na garrafa feito cão de guarda.

Nesse delicioso papo talvez você descubra o sexo da bebida, uma vez que uva é feminino e vinho é masculino. Mas então é isso aí, gente; foi só uma introdução pois o assunto é infinito e as extravagâncias são inúmeras.

Os homens não compram uma Louis Vuitton , não enfeitam os cachorros, não colocam uniforme nas empregadas, não enchem a casa de cristais, mas quando emergem ficam loucos por coisas que ninguém entende. Até por uma taça de tulipa, sem emenda!

Mas no final, tudo isso é a cara do Brasil; e a gente acaba entendendo. Mas o que vale é que os novos-ricos devem se divertir um bolão; e eu também!


Revista VOTO
Crônica: Os Novos Ricos / por Taís Luso
Janeiro/Fevereiro 2011




27 comentários:

  1. Alô Taís,
    essa foi na veia e merece um brinde na taça tulipa, sem emenda, de cristal e com vinho sem nenhuma acidez, acompanhado de um azeite super virgem e um relógio Rolex de ouro...
    Resta como consolo: aturar um novo rico é melhor do que um novo pobre que vai ficar falando do tempo em que tinha um carrão, um avião...
    Um abraço

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  2. Anônimo22:38

    Taís, faz um tempinho que não passo por aqui, ou melhor, deixo um comentário, pois sempre venho ler as suas postagens,que são ótimas.
    Você retratou muito bem o mundo dos "novos ricos".É terrível ter que digerir determinados comportamentos, e a gente sente logo quando a pessoa teve berço...tudo é natural.Não são afetados e tiram de letra todas as situações.
    Obrigada pela visita e os comentários sempre deixados com muito carinho.
    Quando tiver um tempinho passe no (http://emiliamineira.blogspot.com/)e diga se gostou.
    Um fim de semana tranquilo.
    Aqui em Salvador já se respira o carnaval em todos os cantos, e a cidade está lotada de turistas.
    Um abraço...
    Emilinha

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkk,vou aproveitar do comentário do Daniel Savio.
    Sem mais fala sério.

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  4. Olá Tais
    Fui lendo o texto e visualizando cada cena descrita, não pude deixar de rir. É exatamente o que acontece. O novo rico, fica ridículo, tentando implantar em sua vida, coisas que não naturais para quem é rico de origem. Aí é um verdadeiro desastre. São dignos de dó.
    Beijos

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  5. kkkkkkkkkkkkkkkkk
    Me diverti lendo seu texto amiga...
    Ningém merece esses tipos no nosso dia a dia...mas o pior é que eles aí estão...Brindemos então e dexemos rolar...Beijos .Um feliz domingo !!!!

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  6. Os emergentes endoidecem e não sabem o que fazer com tanto dinheiro, eu sempre os observei e acho muito engraçado.
    Começou com Vera Loyola, requintadíssima e assumindo que luxava mesmo...
    Mas quando bate a vontade do famoso torresminho e churrasco na beira da piscina?
    Bem lembrado Tais, uma vez que o Brasil é o pais dos emergentes existe muito pano pra manga sim.
    Beijos!

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  7. Tudo pelo status, né, Taís! Essa sua crônica me fez lembrar de uma ótima frase que ilustra bem essa coisa do querer aparecer do nono rico:

    "status é quando se adquire o que não se precisa, com o dinheiro que não se tem, para impressionar aqueles de que não se gosta"

    É um mal que afeta a muita gente, mais até aos remediados. A diferença é que o novo rico tem grana mesmo!

    bjo
    Cesar

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  8. Também se tornam ricos nas suas misérias...

    Abraço.

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  9. Olá Taís! Belo texto. Lembrou-me uma frase que a minha querida e inesquecível mãe sempre dizia: "quem nunca come mel, quando come se lambuza."

    Beijos e ótima semana pra ti e para os teus.

    Furtado.

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  10. amiga Tais,bom dia uma semana de luz e paz para voce ,imagino amiga o estrago que o tão desejado dinheiro pode fazer na vida de alguem,sem preparo sem noção, ,
    um abraço com carinho marlene

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  11. A ostentação é uma espécie de olimpo dos novos e velhos ricos. Fica parecendo que simplicidade é coisa só de pobres. Mas acabam tornando-se todos simplórios, com os espíritos de uma pobreza de fazer dó. rsrs. Abração, Tais. paz e bem.

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  12. Olá Taís,
    Você está falando de certos emergentes, mas imagine os novos ricos nordestinos,(EU SOU NORDESTINA!)quando voltam a sua terra natal.
    Já vi gente até perguntando se manga tinha caroço. Cansadas de tomar água de cacimba com mijo de cururu e com cabeça de prego, só querem tomar água mineral. Aí o pessoal da terrinha fala assim: Fulana voltou! mas só quer ser as pregas!
    Estava com saudades amiga,
    Beijos,
    Dalinha

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  13. Hehehe! Só rindo mesmo, Tais! Muito engraçada essa sua descrição dos ricos que invadem o mercado, hahahaha!!!!!!
    Bom pra revista Caras, né?
    Bjoo!!

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  14. Oi Tais, como vai? Esse é meu primeito comentário sobre seus posts.

    Cá entre nós, tudo verdade o que disse, mas onde será o brinde mesmo? Vc leva ou eu levo as taças?..rs..

    Parabéns! Gostei muito.
    Quando costurava pelos parágrafos, fui visualizando perfeitamente o que vc também enxergava!

    Um abraço!
    Pugim

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  15. Devo registrar que a maioria
    dos que conheço ficaram, ao longo da vida ou repentinamente, tão ricos de dinheiro quanto mais e mais pobres de espírito. Não há nada mais elegante do que ser quem se é na essência, e isso inclui assumir as origens. Mas, tantas caras e coroas à mão e eis a insanidade. Seduzidos pelas "benesses" de um alto poder aquisitivo, tão sonhado e finalmente conquistado, mergulham com prazer na tentativa de serem identificados como celebridades, jogando um jogo que inclui muita falsidade,superficialidade,deslumbramento, etc, e nenhuma autenticidade, - zero para o bom-senso. Simplesmente esquecem, ou ignoram, o que é ser, e ponto.

    Sempre um prazer te ler, querida.

    Bjs, amiga. E inté!

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  16. Amada!
    O pior é que todo mundo nota que são novos ricos, pois o deslumbre é tanto e a naturalidade não existe.
    Beijos!!!!

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  17. E enquanto isso, o pobre recebe essa miséria de aumento no salário mínimo. Sua crônica, por sinal muito bem escrita e bem humorada nos leva a questionar isso. Fazer o quê? Um brinde, 'salut' aos novos ricos! Bjs minha linda.

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  18. É isso mesmo Taís, o pobre sonha em ser classe média, o classe média sonha em ser rico e, de sonho em sonho, vive-se a ilusão da vida, o imenso palco da vida. Quanto ao espírito, ora...deixa para pensar nisso na próxima encarnação.

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  19. Oi Taís,
    Não é a toa que se diz: "No vinho, a verdade".
    Beijocas.

    Gostei da sua entrevista.

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  20. Taís,divertida e muito verdadeira sua cronica!Adorei!Bjs,

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  21. Anônimo18:51

    Taís: Lindo texto e bem lucido os Novos Ricos: Não fui não sou e nem quero ser: minha origem é e uma familia modesta, por isso nasci assim e assim hei-de partir quando Deus quiser, a mina maior riqueza é ter saude, a Familia, as minhas belas e eternas doces flores que são as minhas amigas/os, da qual tu passaste a fazer Parte, um dia destes podes ter uma Pequena surpresa no meu blog.
    Beijos bom fim de semana e bom carnaval, meu filho mais novo esta com a Minha nora No Recife de onde ela é natural.
    Santa Cruz

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  22. Pamela Oliveira10:17

    Nooossa muito parabens pelas palavras, voce disse e diz tudo nesse Blog, parabens mesmo..
    Iluminada por Deus.

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  23. Anônimo11:35

    O que vejo é muita inveja e pouca consciência e coragem de assumir que se estivessem no lugar do tal novo rico, muitos ,se nao todos, fariam o mesmo, sem se dar conta de quao ridículamente poderiam estar se comportando.
    Acho estranha essa perseguiçao e essa intolerância com as frescuras dos novos-ricos.
    Frescura e afetaçao devem ser condenados sempre e independentemente de quem ou de onde parte; mas ao invés disso,o que se nota é que muita gente(com complexo de inferioridade e baixa auto-estima) tolera e justifica as cafonices e caprichos de um "bem-nascido",
    ao mesmo tempo em que nao perde a ocasiao de apedrejar os deslizes de quem nao foi.
    Tudo é permitido a um, e ao outro nao, Por quê??
    Esse tipo de condescendência tem outra explicaçao...

    Deixemos que as pessoas vivam e gozem de suas posses como bem entendam!

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  24. Anônimo20:36

    Acredito que os novos ricos com a cara do Brasil só estao espelhando o comportamento dos velhos ricos Brasileiros.

    Um abraço

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  25. Tais, adorei seu texto e lembrei imediatamente da Val Marchiori sempre falando em champagne e com uma risada forçada.

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís